As doenças periodontais atingem o conjunto de tecidos ao redor dos dentes, responsável por sua fixação e que inclui gengivas, ossos alveolares e fibras que ligam a raiz dental ao osso. De caráter infecto-inflamatório, as doenças periodontais podem causar destruição dos tecido ósseo e levar à perda dos dentes.
Ao realizar uma revisão sistemática da literatura internacional a partir de 1990, a pesquisadora Daiane Peruzzo, do Departamento de Periodontia, encontrou 58 artigos científicos que relacionavam doenças periodontais ao estresse e a outros tipos de fatores psicossociais.
“Do universo de artigos considerados, 14 preencheram os pré-requisitos. Desses, a maioria indicava fortes relações entre o estresse e as patologias. Esse resultado deu fundamento ao prosseguimento do nosso estudo”, disse Daiane à Agência FAPESP.
Segundo ela, os estudos indicam que um indivíduo estressado tem maior probabilidade de sofrer de doença periodontal, dependendo de como reage frente ao estresse. Foi constatado, no entanto, que pesquisadores têm elevada dificuldade para padronizar os impactos do estresse.
“Há dois tipos de impacto, um biológico e um comportamental. Achamos que, no aspecto biológico, o estresse crônico aumenta o nível do hormônio cortisol, aumentando a suscetibilidade a inflamações em todo o organismo”, disse Daiane.
O estudo foi feito pelo grupo da FOP e dosagens hormonais dos animais foram feitas no departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“A revisão sistemática parte do universo total de artigos publicados e segue critérios rigorosos, considerando apenas aqueles que se enquadrem em determinados pré-requisitos. Ela tem alta capacidade de gerar evidências com segurança, ao contrário das revisões narrativas”, disse Daiane.
Segundo a pesquisadora, a revisão sistemática correspondeu à parte inicial de um estudo em fase de finalização, que pretende avaliar todas as dimensões das relações entre estresse e doenças periodontais.
Efeitos sistêmicos
No aspecto comportamental, os pesquisadores mostraram que a pessoa estressada se preocupa menos com a higiene e a alimentação, aumentando a probabilidade das doenças. “Além disso, fatores como fumo e diabetes também influenciam – mesmo quando não há estresse. Com o quadro de estresse, o fumante tende a fumar ainda mais e o diabético a tratar menos de sua doença”, disse Daiane.
Aqueles que cuidam de familiares com doenças, como câncer e Alzheimer, por exemplo, tenderiam a sofrer mais impacto comportamental. “Eles passariam a se preocupar muito mais com os familiares, esquecendo de cuidar de sua própria alimentação e higiene. Juntando-se isso aos altos níveis de cortisol, há grande impacto na saúde bucal”, afirmou.
A partir dessas evidências, os pesquisadores continuaram os estudos utilizando camundongos a fim de avaliar a influência do estresse na evolução das doenças periodontais.
“Os modelos animais eram o único recurso disponível para padronizar tipos de estresse e doenças periodontais, a fim de avaliar os efeitos sistêmicos e locais entre ambos. Observamos que o estresse teve alto impacto sobre a progressão da doença periodontal”, disse.
O estudo experimental, de acordo com a professora, está concluído, mas ainda aguarda aprovação para publicação em revistas científicas internacionais. “O novo estudo vai trazer algumas respostas, pois avaliou a expressão gênica em relação ao estresse sistematicamente e localmente no periodonto”, destacou.
Agência FAPESP
Postado por: Márcio Robson.
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